21 em 21: Remã romã

Brenda, obrigado por me deixar publicar o seu texto! Esse é, com certeza, um dos meus textos favoritos.
Remã Romã
Brenda Nobre
Brenda Nobre
Eu vivia de pular por aí. Sempre rindo à toa e pisando nas poças pequenas do meio dos caminhos. Eu brincava na pracinha do meu bairro, cantava cantigas de roda e ralava o joelho sempre que tentava pedalar. Nesses dias, eu corria pra casa mais cedo para os meninos não me verem chorar. Eu chorava e dizia pra minha mãe que doía só um pouquinho enquanto ela lavava a raladura com sabão. Logo depois eu já voltava a correr e a gargalhar pela casa como se um pássaro tivesse me contado alguma piadinha boba. Mas nem sempre era só brincadeira que acontecia na praça. De vez em quando, a turma encontrava um gatinho morto e era uma comoção medonha pelo resto do dia.
Acontece que eu cresci, mas nunca me afastei de lá. Sempre fui assim de gostar de movimento e ar puro. Quando pequena, só tinha olhos para a terra e suas lamas, adorava uma lambança em dia de água. Então, com base no que não notei no passado, fui fotografar o céu e tudo o que via. Os pássaros, as nuvens em formato de bule de chá e de elefante e até mesmo um pé de romã. Confesso que eu sempre gostei das romãs. Depois das fotos do velho balanço vermelho, o céu choveu. Eu já disse que gosto de lambanças? Sorri pra mim mesma e corri pela chuva de céu. Meu bule estava derramando e eu estava feliz. Foi quando eu o vi. Um moço simples comendo romã debaixo do alpendre do mercadinho do Seu Vilamar, eu sempre ia lá comprar pirulitos quando era mais nova. O moço me sorriu, pude ver seus dentes amarelados, e eu sorri de longe pra ele antes de ir embora.
É engraçado como a vida tem pressa, não acha? Eu fui vítima do tempo naqueles dias e o relógio não me dava chances de mais lambanças e fotografias. Depois de algumas semanas, no fim de semana, fui à praça e fiquei por lá. Percebi que ainda era o meu lugar favorito no mundo, nunca deixou de ser. Peguei uma romã e sentei no balanço vermelho e velho, me demorando no balançar. Então, de repente, eu vi o mesmo moço que comia romã debaixo do alpendre. Dessa vez ele veio até mim e sorriu. Pegou uma romã, sentou-se no balanço ao lado, começou a descascar a fruta e balançou lentamente cantarolando a mesma cantiga que as crianças do outro lado da praça cantavam. O rangido do velho balanço permaneceu por muitas sementes de romãs. As crianças que brincavam do outro lado da praça já tinham cantado todo o seu repertório de cantigas de roda, já tinham brincado de esconde-esconde e remã remã e nós conversávamos e observávamos o céu e as dependências da praça tão querida. Essas lembranças das fotografias, o moço da praça... Bom, de vez em quando a vida nos faz uma graça.
Música escolhida pela autora do texto!
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